Axé
Afoxé
São grupos folclóricos do carnaval da Bahia.
O nome também é extensivo à festa semi-religiosa em que esses grupos saem às ruas, no cumprimento de obrigações de certos Candomblés.
Nessas ocasiões os grupos de se utilizam de cantos e danças derivados de pontos tradicionais do Candomblé, fato que vem tornando a prática objeto de discussões e objeções.
Se por um lado é uma manifestação definitivamente incorporada ao Carnaval baiano, por outro é considerado como aberração e desrespeito às cerimônias religiosas dos Candomblés.
A crítica mais acentuada diz respeito à forma leiga e popularesca com que os pontos tradicionais do Candomblé, alguns até considerados secretos pelos tradicionalistas, são apresentados pelos grupos, além da utilização, de forma estilizada, dos rituais litúrgicos daquele culto.


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Iniciação
Toda religião - como tal considerada a doutrina que reúna uma forma elaborada de explicar a existência da vida, dos fenômenos físicos e psíquicos, da relação do homem com o nascimento e a morte, o sobrenatural, os deuses e as criaturas afins - contém em si diversos rituais litúrgicos, atos e celebrações carregados de significados metafóricos.
Para fazer parte dos que têm acesso a esses rituais, a pessoa tem que passar por algum processo de preparação ou iniciação, durante o qual será informada das regras básicas e dos valores e crenças dessa religião.
Assumirá, em contrapartida, compromissos de respeito, fidelidade e atuação perante o credo, de acordo com as exigências particulares de cada religião.
No Catolicismo
Esse ritual é o batismo, oportunidade em que o ser humano se torna um fiel, passando a fazer parte dos que creem nos dogmas e valores católicos.
Por essa cerimônia ele aceita as crenças católicas através de compromisso proferido por seus padrinhos, que em seu nome falam durante a cerimônia, não cabendo aqui discutir a validade dessa lógica, mesmo considerando que geralmente as pessoas são batizadas quando ainda bebês e, portanto, o fato ocorre independentemente de sua vontade.
Na Umbanda
Na Umbanda o processo varia conforme a orientação de cada Casa, e depende da vontade do adepto em se submeter aos processos de desenvolvimento.
No geral, constatada essa predisposição, que muitas vezes decorre de dificuldades espirituais que a pessoa vem experimentando, enquanto que outras vezes, mais raras, se origina de seu próprio conhecimento do assunto, a pessoa é convidada a participar das sessões de doutrinação e desenvolvimento.
Nas sessões de doutrinação, nas quais não ocorrem práticas rituais, o interessado é informado dos conceitos básicos em que se apoia a doutrina, dos rituais que a compõe e dos mecanismos pelos quais se processam os fenômenos de incorporação e outros, e dos procedimentos de culto adotados por aquela Casa específica.
Nas sessões de desenvolvimento, realizadas com a presença de médiuns já atuantes na Casa e que incorporam as Linhas correspondentes às Correntes de Trabalho, o iniciante aprende a liberar seus dons mediúnicos, e, o mais importante, a controla-los, de forma que as incorporações e outros fenômenos a que esteja afeita sua mediunidade não ocorram a não ser com sua permissão e sob o comando de sua vontade.
Mais vagarosa ou mais rapidamente, quais sejam suas naturais aptidões e sua aplicação nos processos, o iniciante alcança o momento em que então já domina adequadamente sua capacidade mediúnica, e atinge a oportunidade de sua primeira coroação.
Numa cerimônia de coroação, geralmente coletiva, o iniciante recebe sua coroa de “iaô”, que corresponde ao médium iniciante, oportunidade em que lhe são entregues os colares e amuletos rituais, e em que assume suas obrigações para com a comunidade e o culto.
Essa cerimônia de iniciação se denomina “Barca”, numa referência mítica à separação que existe entre o mundo visível e o astral, o “Ayé” e o “Orun”, que o iniciado, agora de posse do controle de suas faculdades mediúnicas, passa a poder transpor.
Em períodos variados, de acordo com a avaliação que é feita pela entidade espiritual que comanda a Casa, o médium vai progredindo em seu caminho, recebendo, ainda por ocasião das “Barcas”, sucessivas coroações - “Vodun” e “Ebâni” - até ser alçado ao posto de “Babalaô”, quando adquire potencial e liberdade para abrir, se assim o desejar, seu próprio terreiro, sempre sob a supervisão do “Babalorixá” da casa original e da entidade espiritual que a comanda.
No Candomblé
No Candomblé o processo é longo e complexo, recebendo diversos nomes populares como “Camarinha”, “Raspagem”, “Feitura de Cabeça” ou “Feitura de Santo”, e não principia única e exclusivamente com a manifestação de vontade do simpatizante.
Claro que a vontade de alguém se inciar é sempre levada em conta, mas a decisão para a “raspagem” é tomada por consulta ao jogo de búzios, que reflete a palavra dos próprios Orixás.
Mesmo quando não existe a manifestação de vontade do simpatizante, os Orixás, através dos búzios, podem recomendar essa iniciação, e, frequentemente, até mesmo reclama- la por meio do “barravento”, uma crise de possessão não controlada que é imposta ao escolhido.
Autorizada a iniciação, o primeiro passo é acertar seu preço com o babalorixá do terreiro, uma vez que o processo é relativamente caro. Muitos terreiros possuem recursos de reserva, obtidos quando da iniciação de um filho-de-santo abastado, e que são empregados para minimizar as despesas de um menos favorecido.
Superada a parte econômica, a dificuldade seguinte é de ordem prática: a iniciação implica no recolhimento do interessado à camarinha, onde permanecerá incomunicável por período que varia de um a até três meses. É preciso, portanto, que o interessado acomode seus compromissos sociais, profissionais e familiares para essa ausência prolongada.
Resolvidas essas questões o pretendente, que agora é chamado de “abiã”, se recolhe à camarinha, onde permanecerá isolado, inclusive do convívio com os membros do terreiro, e onde se alimentará exclusivamente com comidas e bebidas rituais que lhe serão preparadas e servidas por membros do próprio terreiro, disso encarregados.
Diferentemente dos critérios iniciativos de outras religiões, a iniciação no Candomblé não objetiva a revelação ao pretendente de regras, segredos ou rituais.
Objetiva conduzir a pessoa ao reencontro de um comportamento arquetípico - aquele que é atribuído ao seu Orixá-de Cabeça, já definido pelo jogo inicial dos búzios - e que se encontra latente no pretendente.
O processo, portanto, não acontece no plano consciente, mas em nível mais profundo, no inconsciente.
É fato sabido que o ser humano possue potenciais, faculdades e tendências que, ao longo da vida, permanecem em estado latente, porém contidos pelas restrições impostas pela censura social e pelos princípios inculcados pela educação, e, entre estas tendências refreadas, encontra-se a capacidade mediúnica.
A iniciação busca ressuscitar no noviço essa mediunidade que, aflorada, libera, a par da capacidade de utiliza-la, traços de personalidade até então inibidos.
Durante o processo o iniciante passa boa parte do tempo em condição de semi-consciência, induzida por preparados feitos a partir de plantas litúrgicas.
É produzida, então, objetivamente, uma espécie de vácuo mental, criando- se um espaço onde a identidade e o comportamento arquetípico do Orixá-de-Cabeça podem ser inculcados, despertando as potencialidades, sabidamente equivalentes, que se encontravam bloqueadas no subconsciente do noviço.
Não se trata de uma “lavagem cerebral”, porque a personalidade do noviço permanece intocada, sendo apenas realçados os pontos que coincidem com o arquétipo do Orixá.
Findo o processo, estando o iniciante em seu estado normal, nenhuma alteração será percebida, mas permanecerão consigo, no inconsciente, os dados referentes ao comportamento, rezas, gritos, danças e signos gestuais do Orixá.
Quando sensibilizado pelo toque ritual dos atabaques, no ritmo específico desse Orixá - cada Orixá possue um toque singular e particular dos atabaques - , o iniciado, por reflexo condicionado, entrará em transe permitindo a incorporação.
Nesse período de reclusão, durante uma das incorporações que sofre o iniciante, seu Orixa-de-Cabeça se apresenta e lhe ministra certas instruções particulares, que o iniciante deve manter em segredo, a ninguém revelando.
Durante o processo da camarinha, nos períodos em que permanece consciente, o noviço se ocupa da confecção de pequenos artefatos artesanais, de doces, etc.
Vem então a cerimônia do “Bori”, em que o noviço tem sua cabeça raspada, é feita a marcação de seu “ori” (centro energético situado na cabeça por onde se fará a troca básica de energia entre o indivíduo e o Orixá), e são pintados em sua cabeça os símbolos do seu Orixá. Nessa parte do ritual, o “abiã” oferece ao seu Orixa-de-Cabeça as comidas e bebidas rituais que lhe correspondem, e se torna um “iaô”, grau outorgado ao iniciado principiante.
A partir daí o iniciado participa, inconsciente, mediante o emprego de beberagens controladas, de diversas danças e cerimônias rituais, e, alternativamente desperto e inconsciente, ele chega até a fase final do processo.
A última fase é o “panan”, onde o então já iniciado, em estado de inconsciência, reaprende as atividades cotidianas, reproduzindo trabalhos e atitudes da vida normal, tendo como referência o modo de vida das tribos africanas.
Segue-se então uma cerimônia denominada “Quitanda de Erê”, realizada na presença do público frequentador do terreiro, em que o novo “iaô” vende aos presentes os objetos artesanais e doces que fabricou durante o período da camarinha, objetivando amenizar os gastos que teve com sua iniciação.
O processo finaliza com a devolução do iniciado, à total consciência, sendo- lhe permitido sair do terreiro e retornar à sua vida normal.
A partir de então, passará a cumprir seus deveres com relação ao terreiro e a seu Orixá-de-Cabeça, tendo-se tornado membro da comunidade da Casa.





