Axé
Afoxé
São grupos folclóricos do carnaval da Bahia.
O nome também é extensivo à festa semi-religiosa em que esses grupos saem às ruas, no cumprimento de obrigações de certos Candomblés.
Nessas ocasiões os grupos de se utilizam de cantos e danças derivados de pontos tradicionais do Candomblé, fato que vem tornando a prática objeto de discussões e objeções.
Se por um lado é uma manifestação definitivamente incorporada ao Carnaval baiano, por outro é considerado como aberração e desrespeito às cerimônias religiosas dos Candomblés.
A crítica mais acentuada diz respeito à forma leiga e popularesca com que os pontos tradicionais do Candomblé, alguns até considerados secretos pelos tradicionalistas, são apresentados pelos grupos, além da utilização, de forma estilizada, dos rituais litúrgicos daquele culto.


Veja também:
Jogos de Búzios
Todo sistema religioso codificado sempre conteve em seus contextos um método que possibilitasse o diálogo entre o homem e o mundo divino, e um sistema para que os fiéis tomassem ciência das disposições emanadas dessa divindade e recebessem a necessária orientação para harmonizar sua vida com os fluxos energéticos da vida cósmica.
Nas comunidades primitivas, as indagações limitavam-se à busca da causa e cura para as doenças, à identificação dos inimigos, ao estabelecimento dos momentos propícios para a caça, o plantio e a colheita, aos assuntos de guerra e à formação de novos sacerdotes.
Os esquemas, os objetivos e a formação desses sistemas de comunicação entre o homem e a divindade, sua leitura e interpretação, ampliam-se e sutilizam-se quando se avança no tempo até as grandes civilizações, na medida em que a necessidade de informações mais variadas e complexas foi se verificando.
Muito antes dos oito trigramas de Fo-Hsi, base do sistema oracular do I Ching chegarem aos adivinhos de feira e se popularizarem, eles se constituíam no método empregado pelos imperadores chineses para se manterem na condição de intermediários entre o povo e Deus, sendo consultados quando da tomada de decisões de Estado e naquelas relativas ao bem-estar da comunidade.
O mesmo se pode dizer do Oráculo de Delphos, do Livro do Destino dos Egípcios, encontrado pela equipe de cientistas que viajou com Napoleão para o Nilo, do Tarô Ário- Egípcio ou do Tarô Hebraico.
A Umbanda, o Candomblé e as demais religiões afro-brasileiras são depositários de um sistema muito antigo que é o Jogo de Búzios.
O Jogo de Búzios
O jogo de búzios (èrindinlógun) é uma das artes divinatórias das religiões afro-brasileiras, que consiste no arremesso de um conjunto de 16 búzios (conchas pequenas de praia), (cawris na África), sobre uma mesa previamente preparada, e na análise da configuração que os búzios adotam ao cair sobre ela.
O jogo de búzios é realizado pelo pai-de-santo, por sua iniciativa, como parte dos rituais do Candomblé, ou a pedido de uma pessoa, filho-de-santo ou não.
O babalorixá se concentra para contatar o astral, de forma consciente e não incorporado, e roga para ser orientado sobre as questões.
Antes de jogar os búzios, o adivinho reza e saúda todos Orixás, e durante os arremessos conversa com as divindades e faz perguntas.
Acredita-se que as divindades afetam o modo como os búzios se espalham pela mesa, dando assim as respostas às dúvidas que lhes são colocadas.
Como mensageiro dos Orixás, Exú é o “dono” de jogo, por concessão de Ifá, e é ele quem traduz, na mente do babalorixá, a resposta dos deuses.
O jogo é constituido por um tabuleiro octogonal ou retangular em que estão sulcados dezesseis signos, um para o princípio masculino universal, outro para o princípio feminino, sete para representar os Oxirás masculinos e outros sete para representar os Orixás femininos.
Esse tabuleiro é denominado “opanifá”, e sobre eles são lançados dezesseis búzios, que são pequenas conchas de um molusco do mar.
São dezesseis os búzios, porque a Ifá são creditados dezesseis olhos, e como, no Candomblé brasileiro, são dezesseis os Orixás cultuados, a cada um é atribuido um búzio.
Presentemente, a grande maioria dos babalorixás que se ocupam do jogo de búzios dispensa o “opanifá”.
Para o jogo, o babalorixá agita os búzios em suas mãos e os lança sobre uma mesa, no interior de um espaço formado por colares de contas correspondentes a diversos Orixás e dispostos de maneira a formar um círculo.
Esse espaço denomina-se “Colar de Ifá”, e simboliza o território de domínio desse Orixá.
A leitura se faz segundo dois princípios básicos gerais:
O primeiro é o das configurações - ou seja, a proximidade de um grupo de búzios e o apartamento de outro - que ocorrem quando as conchas caem dentro do círculo.
O segundo se baseia na posição em que cai a concha: aberta, com a cavidade voltada para cima, na posição denominada “CINCA”, ou fechada, com a cavidade voltada para baixo, na posição denominada “CINCAM”.
A interpretação é feita pelo babalorixá com base na ocorrência dessas posições, “cinca” e “cincam”, nas configurações apresentadas, e valendo-se de sua própria intuição, por intermédio do auxílio que recebe de Exú.
As posições “cinca” e “cincam” permitem as seguintes combinações, que correspondem às seguintes entidades:
1 búzio aberto e 15 fechados: Exú
2 búzios abertos e 14 fechados: Ibeiji
3 búzios abertos e 13 fechados: Ogum
4 búzios abertos e 12 fechados: Xangô
5 búzios abertos e 11 fechados: Yemanjá ou Ogum
6 búzios abertos e 10 fechados: Iansã
7 búzios abertos e 9 fechados: Exú
8 búzios abertos e 8 fechados: Oxalá
9 búzios abertos e 7 fechados: Yemanjá
10 búzios abertos e 6 fechados: Oxalá
11 búzios abertos e 5 fechados: Exú
12 búzios abertos e 4 fechados: Xangô
13 búzios abertos e 3 fechados: Obetegunda
14 búzios abertos e 2 fechados: Oxumarê
15 búzios abertos e 1 fechado: Obatalá
16 búzios abertos ou 16 fechados: jogada nula; deve ser refeita.




O Opelé
Outro processo é agrupar as conchas de quatro em quatro e lança-las sucessivamente.
É uma derivação de um jogo anterior, também chamado “Opelé”, igualmente subordinado a Ifá e jogado com um colar de nozes-de-dendê.
Nessa modalidade as respostas são dadas pelos “Odus”, denominação dada a cada possível combinação das posições dos búzios lançados:
Os 4 búzios caem abertos: “Odu Alafia”, que significa SIM.
Apenas 3 búzios caem abertos: “Odu Etawa”, que significa NÃO.
Dois abertos e dois fechados: “Odu Ejala Keltu”, que significa NÃO.
Somente um búzio aberto: “Odu Okanram”, que significa NÃO, e,
Todos os búzios caem fechados: “Odu Oyaku”, que significa um NÃO, definitivo, desastroso.
Nessa modalidade é costume fazer-se a pergunta três vezes, para confirmação, e tais perguntas devem ser formuladas de maneira que possam ser respondidas simplesmente com SIM ou NÃO.
É evidente que as consultas ao jogo de búzios dependem sempre da interpretação, tanto do babalorixá como do consulente, o que pode dar margem a indefinições e até mesmo a conclusões errôneas.
A circunstância, contudo, é comum a toda e qualquer consulta adivinhatória, qualquer que seja o método empregado, dentro do contexto religioso ou não.

Jogo de Búzios de Forma Invertida
A consideração entre aberto e fechado do búzio também pode variar.
A grande maioria dos Babalorixás utiliza a abertura natural do búzio como sendo o lado “aberto”, mas várias mulheres no culto do Candomblé, principalmente na Nação de Keto, acostumaram a jogar como “aberto” o lado em que elas “abriam” o búzio, assim a fenda natural sendo o lado “fechado”, afirmando que o verdadeiro segredo em um búzio fica guardado em seu estado natural, e este é revelado apenas após sua abertura cerimonial, arrancando-se esta parte até então fechada.
Assim vários Babalorixás e Iyalorixás que aprenderam por este método fazem esta forma “invertida” de leitura, ao apresentarem suas conclusões.
Métodos de Jogo
Além dos búzios, pode-se utilizar outros objetos para consultar os Orixás: Obí, Orobô, Alobaça (cebola), atarê (pimenta da costa), ossos, vísceras e outros.
O jogo com quatro búzios é mais utilizado nos rituais para perguntas: normalmente as caídas correspondem às caídas do jogo de Obi.
A quantidade de búzios pode variar de acordo com a nação, o mais comum é composto de 16 ou 17 búzios, mas o jogo com 21 búzios também é muito comum.
Alguns métodos não se baseiam em caídas por Odú, como no Merindilogun. Usam outras configurações e combinações de búzios abertos e fechados, dividindo-os em quatro grupos de quatro búzios (que chamam de barracão) e analisam as quatro caídas e a disposição que elas se encontram. Nesse tipo de Oráculo não se fala em Odú.